CANTO
DA PRISIONEIRA GRÁVIDA
É
toda cheia de tonturas esta mágoa.
Hoje,
dentro de mim, ouvi o meu filho chorar,
não
por fome de pão, nem por sede de água,
- Por
fome e sede da «Sonata ao Luar».
Isto
das grades é decerto um pesadelo...
Filho,
meu filho, nós iremos passear
pelo
campo florido... E hei-de soltar o cabelo,
hei-de
soltá-lo na «Sonata ao Luar».
Aqui,
julgam que ter um filho é chamar a parteira...
Mas o
chão às vezes começa a dançar,
e eu
tenho medo, e sinto náuseas e canseira,
e
fome e sede da «Sonata ao Luar».
Pesa-me
o corpo. Não quero ver as grades...
Quero
passar as mãos por veludos macios,
suaves
como lembranças de saudades...
Mas na
prisão só há sombras, calafrios,
lábios
mordidos porque não querem gritar...
Os
minutos de calma são raros, tão raros...
Dêem-me...
dêem-me a «Sonata ao Luar»,
para
que o meu filho tenha os olhos claros.
Sidónio
Muralha
in “Poemas”
Lido por
Beatriz Maia
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