quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

PALAVRAS RIMADAS EM VIDAS SEM RIMA


PALAVRAS RIMADAS
EM VIDAS SEM RIMA

Há quem veja até poesia
na merda de vida vazia,
misto de vómito e apatia,
vivida no seu dia-a-dia.

Há quem se finja preenchido,
e até quiçá ainda iludido,
numa vida já sem sentido
e fazendo o maior alarido.

Há quem de tão ignorante
acredite ser o mais brilhante,
e por tamanho o desplante
se torne até provocante.

Há quem tenha a petulância
e ache em primeira instância,
que até a sua arrogância
é a mais bela fragrância.
Há quem seja tão idiota,
se pense o único sem batota,
e chame de caviar à bolota
pensando que ninguém nota.

Há quem tenha por panaceia
soltar palavras em verborreia,
numa quase autêntica diarreia,
para que um dia alguém leia.

Há quem se deleite a filosofar,
num barato e oco desfiar
de arremessos para o ar,
procurando apenas brilhar.

Há quem se ache polivalente,
mesmo quando engana e mente
e vai bajulando toda a gente,
achando-se mais inteligente.

Que é feito afinal da coerência,
hoje quase uma demência,
se ter duas caras é valência
e deslealdade pura apetência?

Então… e eu?
Será que vivo no breu
e este mundo também é meu
mas acho que vivo no céu?


Lido por Ricardo Santos

Sem comentários:

Enviar um comentário