sábado, 24 de março de 2018

PASTELARIA



PASTELARIA

Afinal o que importa não é a literatura,
nem a crítica de arte, nem a câmara escura.
Afinal o que importa não é bem o negócio,
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio.
Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante!
Afinal o que importa é não ter medo:
fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício.
Não é verdade, rapaz? E amanhã há bola,
antes de haver cinema, madame blanche e parola.

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim – ainda há muita gente que come.
Que afinal o que importa é não ter medo de chamar o gerente e dizer
muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora - ah, lá fora! - rir de tudo,
No riso admirável de quem sabe e gosta ter lavados – e muitos –
dentes brancos à mostra

Mário Cesariny
Lito por João Pedro Pereira (11 anos)

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